Era uma tarde fria e chuvosa, o céu estava completamente nublado e as coisas, de alguma forma, não pareciam estar em seu devido lugar. Emilie estava tropeçando por entre as poças d'água enquanto caminhava de volta para sua casa, pensando em tudo, e ao mesmo tempo, em nada. Ela estava um pouco ofegante, não sabia exatamente o que estara acontecendo com si, mas resolveu não preocupar-se com isto.
Chegando em casa, enquanto chacoalhava o guarda-chuva para que o respingos não molhassem o tapete, Emilie deparou-se com a casa inteiramente vazia onde escutava-se somente o barulho da chuva que batera no vidro da janela da sala de estar. Subiu para seu quarto. Tudo estava escuro e vazio, e por um minuto Emilie pensou estar tendo um pesadelo, algo terrível estava acontecendo. Sensações. Sensações nada agradáveis.
Ela olhara em sua volta e percebera que o lugar estava com uma espécie de "energia ruin", algo que não teria como explicar. Sentada em sua cama, olhando fixamente para a janela, Emilie pensara em como o clima ali presente identificava-se com seu interior, com tudo o que ela estava sentindo, com as coisas que a cercavam. Escura e vazia. Era assim que Emilie se sentia. Ela andava de um lado para o outro dentro de sua própria mente, procurando por respostas, enquanto uma enxorrada de perguntas preparava-se para inundar seus pensamentos. Ficou ali, parada, até que adormeceu.
Quando acordou, já era de manhã. Emilie levantou-se de sua cama e fez o que, típicamente, todos fazem ao levantar, lavou o rosto e escovou os dentes. Enxugando seu rosto com a toalha cor de salmão que ganhara de sua querida avó, ela se deparou com um bilhete caído ao lado de sua cabiceira. Parou. Olhou. Pegou o bilhete. E resolveu lê-lo:
"É isso mesmo o que você quer, Emilie? Não esconda-se da verdade que te assombra. Não adianta fugir. Eu sei de tudo. Eu estava lá no dia de sua morte, você não se lembra? Eu vi exatamente tudo o que lhe aconteceu naquela tarde ensolarada de sexta-feira. Eu vi seu corpo mutilado, vi o carro que a atropelou. Vi também os assassinos de sua família, eles eram os mesmos, os mesmos que a mataram. Não me diga que você não percebeu que a casa está completamente vazia? Como se sente? Você está pronta? Quem você está tentando enganar?"
Então, a garota pôde perceber que tudo o que ela mais queria era o que mais a assombrava: Uma sede insaciável de viver. Emilie começou a juntar os fatos e, percebera que estara novamente, vivendo aquele pesadelo que uma vez a aterrorizou. Foi no dia 17/08/1993, ás 17h53 que ela conheceu o que, jamais, ninguém gostaria de conhecer: A tão temida e questionada Morte. Foi então que ela, desesperada, correu para a rua sem saber exatamente para onde ir e em um piscar de olhos, Emilie, estava atirada no chão, sangrando. Ela havia sido atropelada e morta, novamente. Quase que inconsciente, ela olhou para os lados e pôde ver toda a sua família, também, morta.
O que poderia ter acontecido? Uma alma inquieta, talvez. Uma alma que não se sente bem com o que lhe foi preparado. A morte. Ah, a morte. Quem conseguirá desvendá-la? Qual seria o segredo dela? Ou até mesmo, quem dirá que ela possui um segredo?
É que algumas coisas simplesmente não tem explicação.
Sexta-feira, 17h53 - Agosto de 2009.